Jorginho revela arrependimentos na Seleção e afirma: 'Um dia voltarei'

Jorginho revela arrependimentos na Seleção e afirma: 'Um dia voltarei'

 

Em entrevista, técnico do Figueira diz que nunca misturou futebol e religião, defende que filhos casem virgens e fala da escolha da filha pelo jornalismo

 

Na noite de 2 de julho de 2010, momentos depois de o Brasil ser eliminado nas quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul com a derrota de 2 a 1 para a Holanda, Jorginho, auxiliar e braço direito de Dunga, ouviu a previsão: “Pode se preparar, você vai apanhar muito”. As palavras foram ditas pelo médico José Luiz Runco, no quarto da concentração, ainda em solo africano. Com o título em 2002 e a decepção em 2006, Runco falou com conhecimento de causa. Conhecedor da história da Bíblia, evangélico há 26 anos, Jorginho sabia que chegava a hora de ser crucificado.

 

 

Exatos 15 meses depois da eliminação, Jorginho, de 47 anos, admite que a guerra com a imprensa não foi a melhor estratégia. O treinador considera que errou em dois episódios em que foi para o embate com os jornalistas. Em sua defesa, diz que a relação Seleção x imprensa segue normas. Por ironia do destino, a filha Laryssa, de 22 anos, está no quinto período de jornalismo e recebe apoio do pai. Mas mete um pouco de medo:

- Já disse para ela ir devagar, pegar leve.

Técnico do Figueirense, que neste domingo enfrenta o Coritiba, Jorginho fixou residência em Florianópolis. Com um tom de voz sempre comedido, olhar fixo nos olhos do entrevistador, Jorginho disse um único palavrão durante 57 minutos de entrevista. E foi para citar uma declaração de Carlos Alberto Parreira na Copa de 1994.

Jorginho, batizado na Igreja de São Jorge, em Quintino, não se furta de reiterar sua fé evangélica, diz que não repetiria o discurso inflamado do episódio em que pediu que o mascote do América fosse mudado de diabo para uma águia, afirma que gostaria que os quatro filhos (Vanessa, 20, Daniel, 18, e Isabelly, 10, além de Laryssa) casassem virgens e garante: nunca participou de reunião de orações com jogadores como Lúcio e Kaká durante a Copa. E revela: aos domingos pela manhã, Dunga ia rezar sozinho numa igreja vazia da África do Sul:

- Se soubessem que Dunga ia numa igreja católica, não tem nenhum problema, mas o Jorginho da igreja evangélica...

O treinador lembra o convite para dirigir o Flamengo em 2009, diz não guardar mágoas da forma como a comissão técnica foi dissolvida com um telefonema do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, reconhece erros, aponta acertos e diz que até hoje há torcedor na arquibancada que o xinga lembrando a Copa.

Morando à Beira-Mar no centro de Florianópolis, Jorginho elogia o mar e a cidade. E no horizonte enxerga o que para muitos poderia ser apenas uma miragem: ser técnico da Seleção Brasileira.

- Um dia eu voltarei. Eu voltarei - afirmou Jorginho. Duas vezes.

Jorginho Dunga (Foto: Photocâmera)Jorginho sobre Dunga: "Amizade vai durar para
sempre, é como um irmão" (Foto: Photocâmera)

Como está sendo o amadurecimento como técnico depois de começar no América com todas as dificuldades (2005), ter enfrentado problemas no Goiás (2010), Seleção Brasileira e agora conseguindo bons resultados no Figueirense?

O amadurecimento está sendo muito legal. O período no América foi fundamental. Comecei minha carreira como jogador no clube e depois iniciei lá como treinador. Existiam dificuldades. Coloquei beliches no meu sítio, que virou concentração, nós é que servíamos a alimentação, a tia da minha esposa era a cozinheira, os jogadores tinham que pegar os pedaços de grama para colocar no campo. Toda essa dificuldade me fez crescer muito. Mas a coisa aconteceu. Logo em seguida, veio a grande surpresa, que foi a Seleção Brasileira. Não deixei de ser treinador quando virei auxiliar. A palavra final era do Dunga, mas eu sempre participava, assim como toda a comissão técnica. Terminou a Copa do Mundo, e o rumo mudou. Antes da Copa, em 2009, fui chamado para assumir o Flamengo. Foi uma decisão muito difícil, pois era dia de convocação.

E por que não aceitou o convite do Flamengo?

Fiquei numa grande dúvida, conversei muito com o Dunga. Chegamos à conclusão que eram duas coisas muito grandes. O Flamengo aceitaria que eu conciliasse. Mas em setembro, outubro e novembro teria que deixar o clube por nove dias. Imagina, como pode um treinador do Flamengo sair do cargo? Não ia dar certo, pois qualquer coisa do Flamengo respingaria na Seleção, e qualquer coisa da Seleção teria reflexo no Flamengo. Então, acabou a Copa, saímos antes do esperado, e a coisa mudou. Assumi o Goiás, foi uma experiência muito grande, mas nunca mais quero passar por aquela situação. A equipe estava num momento político muito difícil. O clube tem muito boa estrutura, mas enfrenta dificuldades até hoje. Peguei o time em penúltimo colocado, com 13 pontos, foi pedreira, e passei apenas 68 dias no Goiás. Pude ver como é preciso ter um "start" bom. Hoje, no Figueirense, me sinto realizando um trabalho. Apesar de ter chegado no meio do Campeonato Catarinense, tive respaldo da diretoria quando perdemos a semifinal do campeonato em casa, para o Avaí. Nosso primeiro projeto é permanecer na Primeira Divisão, estamos perto disso. No Figueirense, pude desenvolver minha filosofia. É importante as pessoas entenderem que eu sou eu, não sou outra pessoa. Quando sou o treinador, tenho toda a liberdade. O Marco Teixeira, diretor de futebol do Figueirense, entendeu isso. Eu converso, sou de diálogo, mas tenho liberdade de fazer o que achar melhor para a equipe. Não gosto de interferências. Nosso ambiente é muito bom, jogadores, comissão técnica.

No processo de consolidação como técnico, que lições você tirou do trabalho na Seleção?

Tirei lições importantes. Hoje, consigo ter uma leitura muito mais racional, pois quando estamos muito ligados, principalmente no pós-Copa, qualquer resposta vem com o lado emocional. Como assumi o Goiás em agosto (de 2010), tive que responder algumas coisas. O ideal é ficar calado para responder depois. A Seleção foi uma experiência que me fez um cara melhor, um homem melhor, um treinador melhor, com certeza. Nosso foco era ganhar a Copa do Mundo. Conquistamos tudo até aquele segundo tempo contra a Holanda. O que se avalia é que o mais importante é que temos que ganhar. Trabalhamos para que isso acontecesse.

O papel do auxiliar, além de ter uma visão mais fria, é fazer anotações, ficar ligado no treinador. Lembro um jogo ou outro em que eu falava: 'Grita'. Em outros momentos, tinha que dizer para o Dunga: 'Segura, segura'"
Sobre sua relação com o técnico na Seleção

Por que não aconteceu?

Foi um detalhe de jogo. Joguei duas Copas, sei o que é necessário e o que não é para o jogador estar ligado numa partida. Mas existem situações de campo que extrapolam tudo aquilo que você planeja. O que aconteceu naquele jogo normalmente não vinha ocorrendo. Na hora em que eles foram bater a falta, havia três jogadores holandeses na bola, e apenas o Robinho. Então, foi uma desatenção daquele momento e saiu o gol fatídico. Foi um baque muito grande na equipe, logo depois levamos o segundo. Mas na visão de um todo não existe um arrependimento do trabalho.

E fora de campo, o relacionamento com a imprensa, os atritos?

No ano da Copa foi essa questão de imprensa, ficou uma situação muito difícil de lidar. É muito importante que exista harmonia. Acho que os dois lados tiveram problemas, não se entenderam bem, uma coisa desnecessária. Tive um ambiente muito bom com os repórteres do Goiás e agora do Figueirense. É importante entender os dois lados, um se colocar no lugar do outro.

Depois de um tempo de avaliação, você se arrepende de algum momento ou reação?

Particularmente, só tive dois momentos (de arrependimento) desde a convocação até o jogo final, pois eu não dava coletiva, ficava apenas no apoio ao Dunga. O Dunga é muito explosivo, sempre fui mais calmo, sereno, tranquilo. Por isso, nos demos bem. O papel do auxiliar, além de ter uma visão mais fria, é fazer anotações, ficar ligado no treinador. Lembro um jogo ou outro em que eu falava: "Grita". Em outros momentos, tinha que dizer para o Dunga: "Segura, segura". Durante a Copa, eu fiquei uma ou duas vezes ao lado do Dunga na coletiva. Quando vi que ninguém me perguntava nada, não ia ficar de papagaio de pirata dele. Na convocação, foi feita uma pergunta em relação a Neymar e Ganso, eu fiz uma colocação, e aquilo foi mal-interpretado.

box 01 (Foto: ArteEsporte)

Coloquei aquilo de coração, pois era o que eu achava no momento. Hoje, entendo muito mais que não tem jeito. Tem gente a favor, outras não. Depois, lia muita coisa, via que alguns não perguntavam sobre a parte tática, aí fiz outra colocação, muita gente ficou chateada comigo. Nunca deixei de respeitar alguém. Foram quatro anos na Seleção, mas esses dois momentos foram cruciais e mudaram a minha imagem. Era hora para apaziguar, dar uma acalmada. Continuo o mesmo, sou o Jorginho da época de Flamengo, depois São Paulo, Vasco. Trato todos os repórteres bem aqui no Figueirense. Em alguns momentos, preciso da minha privacidade para realizar trabalhos táticos, jogadas ensaiadas. Vou, dou entrevista e com todo respeito peço um momento. Um dia, fechei o treino geral. À noite, matutei. No dia seguinte, liguei para o assessor para dizer que ia dar entrevista, pois os repórteres precisam de matéria, são trabalhadores como eu.

A forma como foi a saída da Seleção, o comunicado feito pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ainda na África, por telefone... Ficou alguma mágoa?

Nos momentos mais difíceis da nossa caminhada, o presidente esteve sempre presente. O jogo contra a Argentina, em casa, em Belo Horizonte, com o estádio inteiro gritando "Adeus, Dunga" foi um momento marcante. Eu falei: “Um dia vocês vão me aplaudir”, e acabou que o "Fantástico" fez leitura labial. Tínhamos perdido para o Paraguai, empatado com a Argentina, logo depois tivemos as Olimpíadas e perdemos para a Argentina. Era um momento em que poderia mudar. Fim de ano, jogo contra Portugal, novo treinador... Ele (Ricardo Teixeira) foi muito firme. Não sei se permaneceríamos se perdêssemos aquele jogo contra Portugal, mas ele foi muito firme. Pós-Copa é muito complicado, você tem outros eventos. O presidente tinha que ficar lá, a gente voltou, a chegada ao Brasil foi complicada, o momento para mim no Rio foi bem tumultuado. Não tinha muito o que fazer. Era um momento mais solitário do Dunga, meu e de cada atleta. Fiquei ligado nas entrevistas dos jogadores que disputaram a Copa do Mundo. Joguei duas Copas, observei outras, e quantas vezes eu vi jogador dizer que não merecia ganhar por causa disso ou daquilo. Não vi uma entrevista sequer de um atleta falando: “Ah, o Dunga, o Jorginho...". Saíram algumas coisas que sabemos que foram plantadas. Mas do grupo, do nosso trabalho, da comissão, não existe problema. Demos o nosso melhor, com todo amor. Não temos condições de agradar a todos. O presidente ligou para o Dunga, que foi comunicado e nos passou antes de sair na imprensa. Dunga falou: “Ninguém foi mandado embora, mas está dissolvida a comissão técnica”.

Jorginho 1990 e 1994 (Foto: Getty Images)

E o contato com o Dunga depois disso tudo?

Nos falamos sempre, o Dunga vai participar de uma palestra comigo. A amizade vai durar para toda a vida, ele é como um irmão. Se ele tem alguma dificuldade, me liga. Eu também. Como nós dois desenvolvemos projetos sociais, sempre trocamos ideias. E, quando pinta oportunidade para ele, compartilha comigo.

 

Como está a sua relação com a religião e o futebol? Na época do América, houve o episódio em que você pediu para mudar o símbolo do clube (de diabo para águia).

Batem muito em mim por conta do cristianismo (usa o termo para citar sua vocação evangélica). Você amadurece. Nunca misturei. Sentei com o presidente do América (Reginaldo Mathias), ele disse que queria que eu fosse o técnico. Pensei em ser empresário, mas vi que não tinha muito a ver. O presidente me mostrou uma revista do América que ele fazia. Quando olhei, na capa tinha uma águia. Perguntei: “Presidente, por que o símbolo do América não pode ser uma águia?”. Ele disse que não gostava do outro símbolo (um diabo) e respondeu: “Está aí uma coisa que a gente pode trabalhar”. A figura da águia é muito legal, a superação que ela tem quando chega a uma certa idade, a visão. E surgiu isso. Claro que juntou com o cristianismo, pois o símbolo do América é o diabo. Eu era um treinador jovem, imaturo, dei algumas declarações mais quentes. Nunca mais vai acontecer, foi coisa de momento.

Muitos foram os comentários sobre sua religião quando estava na Seleção, que organizava reuniões com jogadores evangélicos...

Sou muito firme na minha postura. Eu amo Deus, acredito na palavra, jamais vou negar. Se um dia eu chegar a um clube, e o cara falar que eu tenho que deixar de ser religioso... Impossível. Vivo num país com liberdade religiosa. Mas eu não confundo de forma nenhuma religião e futebol. Não aproveito minha liderança para impor qualquer coisa. Não participo de orações, grupos e reuniões. Na Seleção, nunca participei. Foi assim no América, Goiás e Figueirense. Como jogador, eu participava. O Dunga mesmo perguntava se eu não participaria durante a Copa. Todo grupo tem oração antes do jogo, um Pai-Nosso e Ave-Maria. No Figueirense, oramos os dois em respeito aos evangélicos, católicos e espíritas que estão ali. O cristianismo influencia na minha forma de lidar com as pessoas, isso não tem como. Nunca vão me ver xingando. Sou firme, dou dura, mas não preciso xingar. É uma forma diferente de lidar com a situação. Não aceito padre, pastor ou pai de santo dentro do CT. É diferente de você pegar a Bíblia, onde existem conceitos de família. O que não pode existir é grupinho.

Tenho cuidados com coisas que hoje a sociedade, de uma forma geral, acha normal. E para mim não é. Procuro trazer educação para a filha, mas também para o filho, que é casar virgem, respeitar a filha dos outros, assim como quero que respeitem a minha"
Sobre a edução dos filhos

Ainda na questão da religião. Teve uma entrevista sua que foi interpretada como exagerada, em que você disse que sua filha namoraria em casa, sempre com a porta do quarto aberta...

Tenho cuidados com coisas que hoje a sociedade, de uma forma geral, acha normal. E para mim não é. Procuro trazer educação para a filha, mas também para o filho, que é casar virgem, respeitar a filha dos outros, assim como quero que respeitem a minha. As pessoas colocam pelo lado radical, mas para mim não é. Quero o bem dos meus filhos, isso é amá-los. Respeito qualquer outro tipo de criação, mas acho que isso é o melhor que posso dar para eles e aprendi dentro da palavra de Deus. Tudo que foge ao normal acaba chocando. Como eu sempre fui, desde a época de atleta, muito firme ao cristianismo, estava pregando e dando testemunho nas igrejas, a pessoa acha que eu vou usar disso... Quem não influencia é influenciado. Se eu influencio as pessoas, é com o meu jeito, a minha forma de lidar com os profissionais. Não existe negócio de fazer reunião e dizer "vamos orar". Hoje, consigo entender que existe uma barreira muito grande nas pessoas em relação a isso. O cristianismo sempre foi combatido no mundo inteiro. Quem coloca sua dedicação sofre com isso. Mas eu consigo respeitar, equilibrar. Não fui contratado para ser pastor, mas sim treinador. O Dunga saía para ir à igreja e ninguém falava nada. É importante as pessoas entenderem e respeitarem. Quantas foram as vezes aos domingos, bem cedo, que o Dunga saía da concentração, arrumavam um carro para ele, que ia para uma igreja católica vazia, ficava ali tendo o tempo dele. Era uma questão pessoal dele. Eu até dizia que, para conversar com Deus, ele não precisava estar dentro da igreja. Assim que ele ia, eu ficava lá, orando, falando com Deus. Algumas pessoas procuravam saber o que o Dunga fazia. Se soubessem que era uma igreja católica, não tem nenhum problema, mas o Jorginho da igreja evangélica... Sei lidar com a situação, não me machuco com isso. Aos 21 anos, quando me converti, sofria gozações dos colegas, que diziam: “Ah, agora, com Bíblia embaixo do braço”. Aquilo era difícil. Hoje nada me abala. Acho legal que haja respeito, assim como respeito todas as religiões. Toda convocação, eles faziam reuniões entre eles. Lúcio, Kaká, outros jogadores que não eram evangélicos. Eu nunca participei, pois sou treinador, eles têm que me respeitar, porque eles podem achar que eu, o Dunga, poderíamos privilegiar esse ou aquele jogador.

jorginho entrevista figueirense (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)

A imagem que se criou em torno de você atrapalha para que seu trabalho hoje seja reconhecido? Isso te chateia?

A Seleção Brasileira tem um preço. Se você ganha, a vitória esconde tudo, todos os erros. De 1990 para 1994: em 1990 estava tudo errado, em 1994 estava tudo certo. Mas, não. Em 1994, tinha coisas erradas, mas o grupo era mais experiente. A experiência que passei na minha vida me fez crescer muito. Alguns erros cometidos, eu não repetirei lá na frente. Estou crescendo e me preparando para uma grande coisa, eu vislumbro uma carreira muito legal para mim pela experiência que tive, pelo que sofri e conquistei. Em 1990, foi tudo errado porque perdemos, mas tinha coisa boa. O grande problema foi a questão de união, houve divisão grande entre comissão técnica e jogadores, entre o próprio grupo, depois decidimos uma coisa que não era unanimidade (premiação). Em 1994, entendemos que não se repetiria o que aconteceu de errado. Então, o pau comia. Lembro até hoje o Parreira dando uma porrada em cima da mesa: “Porra, quem manda aqui sou eu, quem decide sou eu”. Pronto, ganhou o grupo, fechou ali. Na época existia aquela história entre Bebeto e Romário, o pau comeu entre nós: “Vai acabar aqui”. Os dois se levantaram e disseram que aquilo não existia.

Você pode ser um campeão
se ninguém mais acreditar em você, mas você jamais será um campeão se você não acreditar
em você mesmo"
Ao escolher uma frase emblemática

Mas o pós-Copa de 2010 causou muita rejeição?

A Seleção Brasileira é muito forte, uma paixão. Cheguei aqui ao Figueirense e tive que vencer uma rejeição por parte da torcida, além da herança da perda da Copa do Mundo. Até hoje tem torcedor na arquibancada que xinga lembrando a Copa. É um período que vou ter que passar até mostrar o meu trabalho, como está sendo aqui. Eu me preparei muito para esse momento, tive "media training", a questão psicológica, e apanhei mesmo. Quando terminou a Copa do Mundo, sentamos eu Fábio (Mahseredjian, preparador), Odir (Souza, fisioterapeuta) e doutor Runco no quarto dele. O Runco, que ganhou em 2002 e perdeu em 2006, falou para mim: “Jorge, você vai apanhar muito. Vai apanhar muito, Jorginho”. Ele passou por isso e disse para eu me preparar. E tenho apanhado. Na Seleção não é igual ao clube, existe uma norma. O jogador de Seleção é maior, a repercussão também. Aqui no Figueirense tenho três câmeras, na Seleção são 100. Não dá para se dar o luxo de deixar o jogador o tempo todo ali. Como o resultado final não foi bom, o pau come. Ali tinha que se encontrar um culpado, e como não conseguiam falar com o Dunga, mas falavam comigo, foi como o Runco falou: apanhei direitinho. Mas tenho temor diante de Deus de tratar uma pessoal mal. No futebol, você é tão bom quanto seu último resultado.

Fora de campo, o que mudou do Jorginho nascido em Guadalupe (subúrbio do Rio) para os dias de hoje?

Gosto das mesmas coisas, sou o mesmo cara. Eu me amarro em cinema, shopping. Não me privo disso, ganhando ou perdendo. Gosto de correr na Beira-Mar, faço musculação, gosto muito de ler livros, a Bíblia. Gosto demais de estar com a família. Estamos conciliando, eu vou ao Rio, eles vêm aqui. Uma das filhas está fazendo jornalismo.

box 02 (Foto: ArteEsporte)

Jornalismo? Que ironia do destino...

Ela estuda na PUC, já teve algumas aulas com o Renato Maurício Prado (colunista do "jornal "Globo"), com o (apresentador da TV Globo Alex) Escobar (risos). Escobar é um parceiro. Ela falou: “Pai, posso ser sua assessora”. Ou pode me colocar na parede, mas disse para ela ir devagar, pegar leve (risos). Ela já foi ao "Jornal Nacional", participou de toda pauta, sentou na bancada. Ela está no quinto período.

Tem alguma frase que você gosta de usar como fio condutor na sua vida?

Uso tanta frase, sempre escolho uma diferente nas apresentações. Tem uma que acho muito legal, pois é importante você confiar no seu trabalho. “Você pode ser um campeão se ninguém mais acreditar em você, mas você jamais será um campeão se você não acreditar em você mesmo”. É confiança no potencial. Não pode deixar de lado porque as pessoas não acreditam nele.

Seria demais ou você tem o sonho de voltar à Seleção Brasileira como técnico?

Não, não é demais. Desde que eu estive na Seleção, sempre respeitei muito o Dunga. Perguntei por que ele me chamou para ser auxiliar, já que eu não era amiguinho, amigo mesmo dele, apenas companheiro de time. Ele me deu duas razões: que eu estava com experiência para trabalhar, e que ele confiava em mim, que eu não iria passá-lo para trás. Desde que saí, comecei a planejar a minha vida. Um dia eu voltarei. Eu voltarei. A experiência de quatro anos não foi à toa, aprendi a ganhar e perder. Aprendi a lidar com o repórter. Tem que existir equilíbrio das duas partes. Quando você for escrever, não vai colocar tudo o que estou falando. Mas não vou chegar para você e dizer: “Escreve isso, escreve aquilo”. Mas, lógico, posso pedir: “Escreve legal”. É até legal colocar coisa positiva. Você está me conhecendo, eu sou assim. É sempre um aprendizado. Para o Mano, está sendo agora. A gente cresce mais. Esse aprendizado de Seleção nos dá experiência. Eu acho que vou passar por alguma seleção. É um planejamento. Mas não tenha dúvida: gostaria que fosse a Seleção Brasileira. Eu vou crescer.